sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Vera, a piadista que se acabou de chorar

Vera era piadista, sobretudo com quem não se encontrava por perto pra se defender.
Vera fazia piadas de indigentes, políticos, mortos, doentes, chefes, subordinados. De todos, sem exceção.
De mortos então. Era morrer um parente ou amigo de um amigo ou conhecido que Vera punha sua mente pequena pra funcionar e soltava uma piada. De artista então, era a glória pra ela, pois seria - na mente pequenina de Vera - menos politicamente incorreta.
Até que um dia o filho de Vera morreu. Suicidou-se. No velório dele, parecia coisa combinada. Os "amigos" e colegas de trabalho reunidos relembravam as piadas que Vera contava dos outros mortos e riam, riam muito, naquele lugar feito pra tristeza e quietude. Algumas piadas, inclusive, referiam-se a suicidas. E Vera, de olhos arregalados, fitava incrédula para aqueles que ela acreditava serem seus amigos.
Eis que uma das colegas, ainda muito recentemente ferida com uma das piadinhas de Vera, foi mais corajosa ou mais cruel não sei, lhe disse: "Ué, Vera, venha rir das piadas feitas por você, que relembramos agora; venha escutar uma ou outra piadinha que acabamos de criar e ria conosco."
Vera saiu da sala, disse que ia tomar um banho e foi... e foi no banheiro que ela chorou tudo que os outros todos - vítimas de suas piadinhas - choraram e choraram. Vera parece que chora até hoje. Sem parar!!

Adendo: com a morte de Lombardi e Leila Lopes ocorridas neste mês de dezembro, lendo todas as piadinhas de babacas, eu me recordei de Vera. E juro, desejo que cada um daqueles piadistas ridículos chorem um dia qualquer... que chorem muito... Quem sabe assim aprendam a respeitar a dor alheia? hein? hein? hein?
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2 comentários:

Helô disse...

Caramba! Você tem umas histórias pra contar, hein! Bjs

Rafael Freitas disse...

Credo! Que maldade e falta de respeito dessa Vera.

Eu rio em velório, mas é de nervoso. rs