Nunca vi Camila cara a cara, conversei com ela ao telefone uma única vez; conheci o moço da história dela – superficialmente, graças a Deus – e sou amiga da prima dela: a Estela*.
Camila era divorciada, mãe de duas filhas e professora do 2º grau. Inteligentíssima e sabia, não só bem Português (já perceberam como sou fascinada por quem sabe português, né?), como também francês, espanhol e, pasmem: russo. Professora de história, línguas e filosofia.
Não era uma mulher bonita, mas era “vistosa”. Usava roupas boas, e adorava andar de salto alto, maquiada e perfumada.
Saiu de um casamento com um sujeito que bebia demasiadamente e ficou com as filhas morando num de seus apartamentos. Ela tinha dois imóveis, tudo assim, conseguido com muito esforço, pois além de professora ela era vendedora, e das boas... só faltou vendar a alma, coitada, ou vendeu um dia... vai saber.
Camila era divorciada, mãe de duas filhas e professora do 2º grau. Inteligentíssima e sabia, não só bem Português (já perceberam como sou fascinada por quem sabe português, né?), como também francês, espanhol e, pasmem: russo. Professora de história, línguas e filosofia.
Não era uma mulher bonita, mas era “vistosa”. Usava roupas boas, e adorava andar de salto alto, maquiada e perfumada.
Saiu de um casamento com um sujeito que bebia demasiadamente e ficou com as filhas morando num de seus apartamentos. Ela tinha dois imóveis, tudo assim, conseguido com muito esforço, pois além de professora ela era vendedora, e das boas... só faltou vendar a alma, coitada, ou vendeu um dia... vai saber.
Nunca convivi com gente bêbada, o que é uma benção, mas já ouvi dizer que é o pior dos castigos. Ela também achava, por certo. Achava.
E, amorosamente desiludida, mas profissionalmente bem, “encontrou” um sujeito que só bebia socialmente, que por azar havia sido demitido do trabalho e, mais, acabara de se separar da mulher que, desgraçadamente, havia lhe tomado tudo.
Ele, bom de papo, sondou Camila. Ela, carente: mamão com açúcar.
Aí começou a saga de Camila. A mulher sorridente, mesmo vindo de um casamento infeliz foi se apagando aos poucos. O tal moço compreensivo começou a dizer que Camila não deveria usar muito salto, pois era por isso que a coluna dela doía. E ele entendia de medicina, pois lia até bula de remédio.
Maquiagem? “Não é bom pra pele, deixe sua pele respirar, querida.” "Pra que dois apartamentos? Vende um..." ”Pare de dar aulas, fique só com as vendas, eu te ajudo, sou bom vendedor”, ele dizia.
Dizia e saia, todos os dias, pra uma nova (?) entrevista de emprego, aí não tinha como vender, apesar de excelente vendedor; chegava exausto em casa, coitado, e queria a jantinha ali, pronta.
As filhas de Camila observavam a mãe ir se apagando aos poucos, e começaram as discórdias. Como ele também entendia de “criar filhas dos outros”, dava palpite em tudo.
Nessa confusão toda, Camila ficou casada com o tal sujeito por uns seis anos, acho. E foi perdendo as coisas todas. Já não tinha mais um dos apartamentos, pois o tal marido trocava um carro aqui, outro ali, as tais famosas “catiras”.
Um dia, Camila saiu de casa, para vender um de seus produtos, agora a pé, pois nem carro ela tinha mais e deu de cara com o marido - nesses banquinhos que há nas praças, em volta daquelas mesas com desenhos de dama e xadrez - jogando dominó e rindo absurdamente da vida.
Ela chegou perto dos homens “trabalhadores”, cumprimentou a todos e disse: “passe mais tarde lá em casa pra pegar suas tralhas e nunca mais apareça na minha frente.”
Estela, minha amiga, me disse que a encontrou na rua, quase na mesma hora e notou que ela estava diferente, com um certo brilho no olhar, como se tivesse voltado a ser aquela mulher, antes tão segura e calma. Camila então disse pra Estela: "é minha amiga, olha só o que eu virei, que trapo eu estou, mas eu vou levantar a cabeça, e voltar à vida que tinha: sozinha, sem bêbado nem tonto." "Mas antes", Camila continuou, "vamos comigo ali no shopping que quero comprar o que mais senti falta nesses anos todos: um belo par de sapatos de salto alto, porque é nele que quero voltar pra minha casa."
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*Estela também é nome fictício.
6 comentários:
nunca mais diga que tem raiva do que escrevo.
isso aqui tá muito bom, sua ridícula.
ahahaha
[teamo]
Belo texto Rosanita. Admiro mulheres como Camila, que conseguem dar a volta por cima. Bjs
Temos a mesma paixão: pessoas que sabem Português.
Nada me encanta mais que um texto bem escrito, acentuado, com as devidas pausas e, claro, coeso.
Camila é uma heroína! Merece aplausos, e que mais mulheres a tomem como exemplo.
Beijos.
Um elogio da minha pititinha é tudo que eu quero na vida.
Também admiro a Camila, sabia Helô? Como torci por ela... owww. Dizem que tá bem agora, já com coisinhas adquiridas.
Moça do Fio, bom te rever. Passo lá depois, vi que tem texto novo, mas tava muito, mas muito correndinho ontem.
beijossssss, amores.
Nossa, como assim? estava perdendo tudo isso?
Mamita, esse texto está lindo.
Adoro as Camilas.
Que sacodem a poeira, dão a volta por cima e coloca um belo par de salto alto.
Reforço o que a Laura disse!
E quem for esperto siga os passos (mesmo que com tênis ou rasteirinha.. rs) da Camila!
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