terça-feira, 3 de março de 2009

Bruno, que ainda sorri com o olhar

Conheci Bruno aos 14 anos e creio que ele tinha uns 18. Na época ele fazia tiro-de-guerra e usava aquele uniforme ridículo, mas que eu e umas 955 mocinhas “suspirantes” da cidade achavam a coisa mais sensual e elegante do mundo.
Ele era o moço mais lindo da rua, do Bairro, quiçá de Patos de Minas.
Bruno tinha um corpo bonito e dançava que era um delícia; um jeito de trocar o cigarro de mão quando ia me abraçar que era tão, tão próprio; um abraço absurdo de bom; uma voz; uma boca; um sorriso... de matar. Mas o sorriso mais lindo que ele tinha, era o do olhar. Era tudo que eu mais observava nele, que mais me instigava... e que eu mais gostava.

Nunca havia visto isso antes – também com 14 anos, no início dos anos 70 – nunca havia visto quase nada da vida, oras. Nem depois, tal como aquele olhar sorridente.
Já, já encontrei muitos que sorriem com os olhos: homens, mulheres, jovens, crianças e até velhinhos (que muitos afirmam terem olhos inexpressivos ), mas ninguém nunca sorria como o Bruno.

Eu não sei assoviar, uma de minhas maiores frustrações, mas um único assovio eu sei fazer: o que ele me ensinou pra chamá-lo e o que ele usava pra me chamar (penso que a ala feminina naquele entorno sabia desse assobio, por certo, mas eu era crente que ele era só meu, só nosso). Nem parece romântico, né? O tal assovio, mas pra mim era... (testei aqui, inda sei fazer adoUUro).



Eu ia quase todo dia à casa de Bruno na hora do almoço e entrava lá no quarto dele... pra ganhar um dos melhores abraços do mundo. E ficávamos nessa: só de abraços.
Um dia ele me disse: “Rosana, vamos desenrolar essa história?” E eu então dei uma olhada em volta de nós dois, como se procurasse alguma coisa nele ou em mim e com um olhar de mulher-sabida-forte-consciente-segura-e-fatal disse: “não estou vendo nada nos enrolando aqui.”
Ele me deu aquele sorriso, um abraço e perguntou se eu tinha medo... fiz de surda (detalhe: naquela época eu nem era...)
Sei que pensei: "não tenho estrutura pra dividi-lo com as outras meninas." A cada semana o Bruno tinha uma namorada nova.
Mas eu sabia que era especial, pois nos bailinhos que íamos ele sempre reservava uma “seleção” só pra dançar comigo, e num dos carnavais da vida, aliás, o único carnaval que eu gostei na minha vida eu passei um bom pedaço da noite com ele, pulando e abraçando muitooo, com direito a rasgar pedaço de camisa e guardar por muito tempo em minhas coisas.
Aliás, foi neste carnaval que eu aprendi que tocar corpo de homem suado é bom, desde que você sue junto. O pedaço de tecido não tenho mais, mas tenho foto e a saudade de ter vivenciado uma “não história de amor” com o moço do sorriso mais lindo no olhar.
Depois nos afastamos, ele mudou da rua de casa, eu fui morar noutra cidade, vieram os namoros, casamentos... mas sempre que eu dizia ou pensava de sorriso e olhar bonito eu me lembrava de Bruno.


Há uns quatro meses, mais ou menos, eu o vi na mesma rua em que eu estava passando. Ele vindo, eu indo... rs Ele parou, trocou o cigarro de mão, tão lindamente ainda, me cumprimentou e disse: “Rosana, que alegria te ver” Olhei pra ele e na hora percebi que o moço mais lindo da cidade, hoje um “senhor” muito do lindão, não desaprendeu aquele sorriso no olhar.
Quase assoviei...
Meus sais!!!!

7 comentários:

Helô disse...

Rosanita!!!! Tenho que ir pra Patos! Ah tenho! Não pra conhecer o "seu" Bruno, mas pra te contar em detalhes, sobre o meu Bruno. Quanta saudade boa!!!! E viva nossa memória!

Café e Anfetaminas disse...

Rosaninha, que romantismoooo, que texto maravilhoso! Adorei como descreveu os detalhes dele. Achei lindo... tudo tudo tudo. Amei o detalhe do rasgo na camisa.

Café e Anfetaminas disse...

Olha, de tudo que ja li no seu blog, acho que esse texto foi o que mais gostei.

Vera disse...

O legal dos seus textos é que eles conseguem passar uma profundidade e contém doses acertadas de humor.

Eu ainda não vivi isso que você descreve. Espero vivê-lo um dia.

E, ah! Tenho que discordar quanto ao olhar dos velhinhos, ou idosos (como queira). Moro com minha madrinha - ela tem Alzheimer - e ela fica, às vezes, calada por mais de 1 hora. Então eu a observo e sinto que há algo perdido naquele olhar... queria poder entendê-la, compreender o que ela sente. Mas infelizmente não tenho este poder. O que posso fazer é me doar e ser paciente com quem tanto fez por mim. E ainda faz, existindo.

Abraços.

Rosana Tibúrcio disse...

Vem Helô, vem me contar do seu Bruno... quero saber tudo. Adoro relatos, histórias, essas impressões: os 'causos'.

Jéssssssss, que responsabilidade a minha agora. Esse, o que cê mais gostou??? Caracas, até chegar no Zacarias será se inda consigo mais??? hehe

Moça do fio, sim, infelizmente há esses casos como de sua madrinha. Acho um dó, sabia? Nem todos precisariam sorrir como o mocinho da minha história - até seria ideal - mas olhar parado é triste.
E seja paciente sim, num momento ou outro ela sentirá isso e ficará feliz, por certo.

Beijos, moçada...

Laura Reis disse...

fiiiiiaaaaaa, e como é que você não pegou ele de voltaa?

rafa disse...

Gente!
Eu deixei pra ler os melhores por último!

Eu teria assoviado!