Conheci Eliseu no meu trabalho, há uns vinte anos. Sujeito estranho, quieto, que andava sempre apressado e de cabeça baixa. Imagino que ele tenha sido uma criança linda, pois o rosto tem traços bonitos. Ele morava só e nunca havia se casado, mas era moço ainda, tinha uns trinta anos, creio.
Eliseu era daqueles típicos homens que precisam de uma mulher em casa pra cuidá-lo e dizer de vez em quando: “olha, você está com mau hálito”, “o cê-cê hoje tá forte”, algo mais ou menos assim. (Não me digam que na casa de vocês não rola algo semelhante? De um dizer ao outro quando está “vencido”?)
Várias coisas me irritam em demasia e me afastam de algumas pessoas, e essa é uma das. Não sei como se dá esse processo em mim, mas me sobe um “ímpio”: isso de cheiro ruim (já contei aqui o que significa “ímpio” pra mim).
E talvez, por esse meu lado impertinente, eu tenha perdido boas conversas com Eliseu, porque ele era muitíssimo educado, sempre falava com a voz baixa e era sorridente; daqueles homens que, mesmo apressado como sempre andava, esperava que nós, as colegas de serviço, entrássemos no elevador antes dele, abria portas pra que passássemos, era um “fofo”, digamos assim.
Muito discreto, tinha lá suas namoradas, mas não era daqueles que ficavam contando vantagem como alguns outros colegas faziam. E nós, as colegas mulheres, em alguma festinha lá do serviço, na hora que falávamos dos homens (vão me dizer que não fazem isso?), éramos unânimes ao elogiar a discrição de Eliseu.
Eliseu era daqueles típicos homens que precisam de uma mulher em casa pra cuidá-lo e dizer de vez em quando: “olha, você está com mau hálito”, “o cê-cê hoje tá forte”, algo mais ou menos assim. (Não me digam que na casa de vocês não rola algo semelhante? De um dizer ao outro quando está “vencido”?)
Várias coisas me irritam em demasia e me afastam de algumas pessoas, e essa é uma das. Não sei como se dá esse processo em mim, mas me sobe um “ímpio”: isso de cheiro ruim (já contei aqui o que significa “ímpio” pra mim).
E talvez, por esse meu lado impertinente, eu tenha perdido boas conversas com Eliseu, porque ele era muitíssimo educado, sempre falava com a voz baixa e era sorridente; daqueles homens que, mesmo apressado como sempre andava, esperava que nós, as colegas de serviço, entrássemos no elevador antes dele, abria portas pra que passássemos, era um “fofo”, digamos assim.
Muito discreto, tinha lá suas namoradas, mas não era daqueles que ficavam contando vantagem como alguns outros colegas faziam. E nós, as colegas mulheres, em alguma festinha lá do serviço, na hora que falávamos dos homens (vão me dizer que não fazem isso?), éramos unânimes ao elogiar a discrição de Eliseu.
Fátima, uma colega de setor, numa dessas reuniões, me contou, inclusive, que teve um romance com ele (a lesada aqui nem percebeu, mas os dois eram os reis da discrição e ali pertinho de mim, na mesma bancada). Ela me disse de uma forma que não me pareceu invejosa ou ressentida: “ele está com uma mulher que eu conheço e ela vai aprontar uma feia pra ele, pode esperar, Rosana. Só que não tem como alertá-lo, pois por mais que ele seja gentil tenho receio de sua reação e o que pensará de mim. Acho melhor ficar quieta.” E eu: “meeeesmo?” Ela disse: sim. E não prosseguiu.
Sou uma pessoa extremamente curiosa, mas muito curiosa mesmo, mas também, muito discreta. Se uma pessoa quer me contar um “babado”, conta até onde quiser, se eu perceber que há algum vacilo, não faço perguntas, por mais que eu morra de “catapora preta”.
Ocorre comigo também, uns lances interessantes: muitas vezes eu fico sabendo parte de um caso por intermédio de uma pessoa e o resto, por outra. Foi assim com a sequencia dessa história de Eliseu e a tal mulher “custosa” apontada por Fátima: ele mesmo me contou, e o lance foi fortíssimo.
Um dia – quase um ano depois daquela reunião em que Fátima havia me contado do romance entre ela e Eliseu - assim que nosso horário de trabalho terminou, Eliseu perguntou se eu tinha um tempinho pra que ele pudesse me mostrar algo e me contar o que o afligia. No meio do expediente, daquele dia, eu havia notado que ele não estava muito bem e perguntei o porquê e se podia ajudá-lo; no que ele me respondeu: “é só uma dor de cabeça forte, Rosana, obrigado.”
Fomos pra cantina e lá chegando ele tirou do bolso um recibo de transferência de um valor pra um laboratório em BH que fazia exames de DNA. Caríssimo o danado, pois foi na época em que esses exames surgiram; eram feitos só na Capital, algo mais raro, portanto, e de valor exorbitante.
Eliseu então me contou que naquele dia, na parte da manhã ele, a mulher “custosa” e um neném haviam ido a um laboratório colher sangue pra saber se a criança era filha dele (uma menina. Linda, disse ele).
E aí Eliseu me contou a história do romance que eles tiveram e no meio do relato ele disse uma frase cafona e comumente usada naquela época: “ela chegava lá em casa, eu sozinho, ela sozinha, a carne é fraca, você sabe, né Rosana?”. Eu tive que rir, não resisti. Voltando ao laboratório e ao exame, ele me disse que coletaram o sangue dele primeiro, depois da mulher e que na hora do moço picar o dedinho da menininha, deu nele uma vertigem e que, por pouco, não desmaiou. Prosseguindo, ele contou que sentiu vontade de socar o enfermeiro, a mulher, pegar a neném inocente e fugir daquele local com ela; achou uma judiação muito grande para com a criança, mas que também tinha certeza que ela não era dele. Perguntei se ele podia ter filhos, ele disse que sim, "mas essa não é minha filha" disse firmemente.
Eliseu falava daquele jeito cabisbaixo e eu, ao olhar pra ele, tomei um susto quando vi mil lágrimas escorrendo de seu rosto.
Eu não sabia o que fazer ou o que falar e me veio uma única indagação: "e se ela for sua, Eliseu?" Ele respondeu que seria o homem mais feliz do mundo, que logo ele que nunca quis se casar ou ter filhos. Acrescentou: "quando o laboratório me mandar a resposta eu te conto."
No dia que chegou o resultado, antes dele me contar eu já sabia só de olhar pra ele com aquele envelope na mão: negativo. A menina não era dele! E ele acrescentou: "nunca mais quero falar sobre isso, Rosana."
Há uns dois anos, Eliseu apareceu aqui em casa com um documento pra eu assinar. Juro que me deu vontade de perguntar sobre aquela história, o que ele ainda sentia e tal, mas não tive coragem. Melhor deixar quieto, já que ele optou por essa quietude.
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8 comentários:
Já que não morri, voltar a desenterrar meus mortos-vivos...rs
Rosanita, tb sou muito mas muito curiosa. E já fui pior. Sorte que nunca tive catapora preta. Bjs
"A curiosidade matou o gato".
Acho que nunca dirigiram este dito a você =p
Que conflito, este do Eliseu. Gostei da descrição e discrição do moço. Um fofo.
Beijos.
PS: Estava com saudade dos seus escritos.
Rosana,gostei da Daninha.Muito Danadinha esta Daninha..Continue essa história.Estou com indícios de "catapora preta".
Acho que a menina não era filha de Eliseu por conta do mau hálito.Afinal,ninguém merece!!!
Que bom que está bem!
Beijos
Réa Silvia
nossa, tão bom ler esses textos, dá pra visualizar certinho as cenas, inda bem que só visualizar e não sentir os cheiros... rsrsrsrs
Tomara que o Eliseu tenha ganho algum patrocínio da Listerine e da Rexona por ai... rsrsrs
bjao
Rosana,
Você é demais !!!!
Escreves divinamente !!!
Adorei.
Parabéns !
Beijo,
Solange Maia
http://eucaliptosnajanela.blogspot.com
Oi, pessoassssssss. Obrigada pela visita: Helô, Moça do Fio, Flavíssima, Silvia e, agora, Solange.
Voltando devagar, pois não ainda muito bem. Mas já já tô nos trinques...rs
O "morre de catapora preta" pegou, né?! rs
Mas a pergunta que não quer calar é: o mau hálito acabou?
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