sábado, 24 de janeiro de 2009

X de xale

(o meu era parecido com este, só no tamanho)

Há 965 anos, quando eu era bem mocinha (sim, já fui nova) era pobre de dá dó; quer dizer, pobre assim sem grana pra comprar roupa bacana pra mim, não passava fome nem nada muito sério.
Eu era encantada com roupas novas e com as da moda. Penso que eu era, na verdade, como as adolescentes de sempre (todas iguais, só mudam de endereço).
Mas então... neste vai-e-vem da moda o xale ressurgiu com tudo. E ressurgiu de vários estilos, texturas e cores.
Não me recordo como consegui ter um, sei que tive: amarelo de lã, quente pra cachorro (o tamanho e o estilo era como esse aí da imagem, mas não o tecido). E quando eu consegui ter esse xale já não era mais naquele período de frio intenso.
Nos anos 70, a moda não passava assim tão rapidinho como agora, me parece e, desta forma, apesar de já ter iniciado o verão, viam-se mocinhas, moças e senhoras com um ou outro xale nos ombros (claro que de um tecido mais leve).
Mas como? Consigo uma peça e não uso? Não pode! E pensava que iria surgir uma bela oportunidade para eu estrear o meu.

Sempre fui muito alérgica, espirrava por qualquer motivo. E num desses períodos de não boa saúde surgiu um convite para eu sair com a turminha. Aí resolvi acentuar a alergia forçando os espirros (colocava a unha no nariz, bem disfarçadamente), para assim, parecer mais doentinha (sim, é ridículo, mas é verdade), e poder me agasalhar um pouco mais.
Oba!!! Bela oportunidade de usar meu lindo xale-amarelo-novo-de-lã-quente-e-grossa.
Coloquei o danado nos ombros e parecia que naquela noite eu era a pessoa mais chique de toda Patos de Minas... e lá fomos nós.
Sentada à mesa, era um tal deu passar o xale pra lá e pra cá... com gestos que, para mim, pareciam sensuais e interessantes.
E foi tanto vira xale pra cá, ajeita xale pra lá que passei a notar um certo calor me subindo pelo corpo todo. Parei um pouco naquele mexe-mexe e percebi que eu estava ‘morrendo de tanto suar’.
Era chique também tirar o xale dos ombros, dobrá-los e colocá-los no colo, assim de um jeito todo sestroso.
Ia fazer isso, claro. Mas foi aí que notei com que blusa eu estava vestida. Ela era ridícula, dessas de ficar em casa, toda puída, desbotada, pra não dizer: podre. Não era uma roupa ideal para sair de casa. Inda mais no lugar onde estávamos (na Recreativa, um dos melhores clubes da época).
E havia música, e havia dança... ai meu Jesus Cristinho... e agora?
Agora????? Sei que fui ficando ressabiadinha, cada vez mais calada a ponto de notarem minha agonia. E ao me perguntarem o que eu estava sentindo, disse: “acho que tô com febre, tô sentindo muito frio...” e tome espirro forçado.
Alguém me perguntou se eu queria ir para casa, falei que sim. Eu me levantei, joguei o xale de novo nos ombros, do tal jeito sex-sestroso-ridículo-chique, dei um tchauzinho pra turma e fui embora, com a ligeira impressão de que alguém me criticava, por usar uma peça tão quente, naquele dia e, sobretudo, naquele lugar. Mas... preferi não saber ao certo se houve algo parecido. Vai que eu dava uma “xalezada” na fuça dum?
Chegando em casa, tirei o tal xale dos ombros e percebi que debaixo dos meus braços havia quase uma poça d’água de tanto suor. E olha que não sou de suar muito, nem era. Acho que deitei chorando (por certo, pensaram que as assoadas de nariz era só da gripe) e tomei uma birra do meu xale-amarelo-de-lã-quente-e-grossa-molhado-de-suor-fedido.
Nunca mais!!!

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5 comentários:

UM DIA SEREI EU MESMA disse...

Nó! Xale pra mim é o Ó DO BORÓGÓDÓ! Chique nos úrtimu!. Amo de paixão.
Xale e lenço são demais!!! Valeu o sacrifício, né não?

Rosana Tibúrcio disse...

Adorei o seu borogodó... hehehe

Jorge, FLÁVIA disse...

nossa, quase uma história imaginária... rs
fiquei aqui imaginando o seu sofrimento, Rosaninha, mas como já passou há um certo tempo, foi bom pra rir tb... rs
adoro xales e afins, acho digno, mas não no calorão né... rs
bj de bom domingo...

Denise Tibúrcio disse...

rsrsrsrs,não consigo nem escrever coisa alguma.
Xalezada na fuça dum .srsrsrsrs

Anônimo disse...

Como assim forçar a tosse?
Tudo isso pra usar um xale amarelo?
Devia ter cheiro de ovo.
Ah, se devia!