domingo, 24 de outubro de 2010

Trinta e um anos e o presente que não dei

Trinta e um anos eu tinha quando encasquetei* que estava novamente grávida. Final de 1986.
Logo pensei: o tão sonhado presente de Marina. E do pai dela, também, claro. Cismei de ficar quieta - logo eu que sempre falei mais que o homem da cobra - em ir sozinha ao médico, fazer os exames e apresentar o resultado num embrulho bem bacana. Presente de Natal. Quer melhor???
Mas qual o quê... bem no dia 23 de dezembro eu abortei esse filho que hoje teria vinte e três anos. Idade bonita!!! Fico imaginando um possível menino pra "petecar" essa vida aqui só de meninas... Esse menino é por minha conta, pois eu estava grávida de pouquinho e não daria pra saber o sexo do bebê. 
Na verdade, esse aborto não é um pensamento recorrente, sei apenas que o dia 23 de dezembro, antes comemorado como uma data bonita - dia que fiquei noiva - passou a ser uma data, às vezes, triste; às vezes, estranha; e, às vezes, nem lembrada...
Não há como lembrar muito bem de quem não existiu, de quem virou um "se"; mas não é tranquilo também. Eu sofri bastante na época, de dores, porque foi uma dor de cão e de frustração mesmo, mas hoje é apenas uma lembrança.
É lembrança e constatação da minha incompreensão em relação a quem aborta por aí a torto e a direito. Eu me refiro aqui a quem não tem, aparentemente, um motivo tão forte como estupro ou doença grave que é papo pra lá de sério e pra outro post (sem parênteses, aliás).
Mas em relação àqueles abortos de gente descuidada que dá mais que chuchu na serra, vou morrer sem entender, por mais que eu viva outros trinta e um anos...
Porque é uma dor inexplicável. Passa, mas dói!!!

*as minhas três gravidez eu descobri sozinha, no pulo.

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Um comentário:

Denise disse...

Gosto muito do jeito que escreves, mesmo sendo palavras tristes, de coisas tristes.. lamento por essa sua dor e imagino o quanto pode ser...

grande abraço..