sábado, 28 de agosto de 2010

Sete anos e minhas primeiras memórias


Sete anos eu tinha quando comecei a guardar os primeiros arquivos de minha memória. Nada antes disso eu me lembro; a não ser do que me contam...
Não há aquelas recordações que são miiiinhas mesmo e que vêm com sensação, cheiro e gosto. Só essas são as de verdade.
.....Com sete anos descobri que era uma pessoa muito medrosa. Medo, sobretudo, do desconhecido. Característica que me acompanha até hoje. E não só do desconhecido, como também de: cachorro, avião, muita gente reunida, gritos, brigas, incompreensão, armas, altura, desentendimento e discussão sem porquês.
....
Com sete anos eu devia - além de guardar arquivos de memória -, ter escrito um manual de como não se comportar pra não se ferrar na vida.
A primeira lição seria: nem sempre quem fala a verdade recebe troféus e parabéns. Não caiam nessa, crianças. É lorota de gente velha e recalcada, isso de que a verdade vem com bônus.
Com sete anos tive o que considerei meu primeiro castigo. Nem era!!!!
Mas não me souberam explicar o porquê daquilo tudo e achei, sim, que estava sendo bastaaaaante castigada. Afinal, como já disse, o desconhecido me apavora, desde sempre.
.....
Estava copiando um ditado na sala de aula. Daquela lição da Lili, lembram? E quando chegou nessa parte: “Fique quieta, Lili – diz Joãozinho. Olhe bem para mim. Puxe o laço do gatinho. Eu já vou tirar o seu retrato. Um... dois... três... quatro!... Que bonito vai ficar o seu retrato!” a pessoa aqui errou a palavra quieta. E querem saber? Deveria ter ficado quieta, evitaria o primeiro de meus maiores micos.
Pensando que o bonito era contar pra professora, contei... Quem sabe rolava um elogio, né? Já que eu sempre fui tão carente, desde novinha. Precisava tanto (rô rô rô).
Só que... a danada da minha professora querida (e era querida mesmo), me disse: “quando a aula terminar, você vai ficar um pouquinho mais pra treinar a palavra quieta, tá bom?”...
Tá bom nada, minhas gentes. Esse foi, além de mico, o meu primeiro e inesquecível medo-pânico-me-segura-senão-eu-borro-saia-abaixo (porque o uniforme era saia, não rola calça abaixo, aqui).A partir daí, quieta foi o que eu não consegui ficar. A impressão é que havia milhões de pulgas no meu corpo. E o pânico se refletiu, também, nos meus olhos, pois fiquei mais zarolha do que era: um olho pro quadro negro e outro pra porta da sala – já buscando uma saída praquele desespero...
,...Resumindo: quando meu pai foi lá me buscar – como fazia todos os dias – e a professora pediu pra ele esperar um pouco, porque eu ia “treinar” o “quieta”... fiz foi correr por entre aquelas filas de carteiras da sala. Não sei como me pegaram. Não sei se treinei a tal palavra. Que aprendi eu sei, nunca errei mais essa.
.........Só sei que no “fique quieta Lili” reside minha primeira recordação; que não é a das melhores, mas é a primeira.
....Sei que a partir dos meus sete anos comecei a guardar coisinhas no meu arquivo de memória. Foi quando, também, comecei a usar óculos, talvez esteja aí o motivo desse primeiro registro. Antes eu era bem ceguinha e, aos sete anos, comecei a ver as cores todas da vida; dentre elas, o cinza – a cor do desconhecido – que detesto até hoje e evito, quando posso...
...
Adendo: tenho nos meus arquivos - não o da memória, do micro mesmo - o livro inteirinho da Lili, de onde tirei a imagem e que vou, um dia, imprimir, colorir e guardar... (alô infância perdida hauahsuhas).
......

Um comentário:

Rafael Freitas disse...

(Eu ri tanto do "fiquei mais zarolha do que era" que nem tô conseguindo comentar!)