segunda-feira, 7 de junho de 2010

"F"abrício morreu sem sair do armário

Fabrício era o filho mais bem comportado de Dona Etelvina. Muito obediente, educado e de uma timidez que chegava a irritar.
Para arrancar um sim daquele garoto era um custo. E um não, então? Quantas vezes ele comeu e bebeu algo de que não gostava só pra não parecer mal-educado?
E assim Fabrício foi crescendo sem falar nem o que era necessário. Dona Etelvina sempre lhe dizia: "filho, o peixe morre pela boca, mas o contrário também pode acontecer. Um dia você precisará se manifestar, e aí? Vai se calar?"
Num certo dia, Fabrício foi à casa da vizinha arrumar uns móveis que necessitavam reparos. Ele tinha jeito para trabalhos de marcenaria e, assim, ganhava um dinheirinho extra ali pela vizinhança depois de cumprir meio período no banco onde trabalhava.
Ao chegar na casa de Dona Celinha e Seu Adolfo, a empregada disse que surgira um imprevisto e precisava ir embora, deixando, assim, Fabrício cuidando dos móveis. Fabrício apertava uns parafusos do armário do quarto do casal, quando ouviu vozes. Reconheceu, primeiramente, a voz do seu Adolfo que chamava por Dona Celinha. As vozes iam se aproximando e Fabrício notou que a outra voz era de seu pai. Algo estranho encostou no armário, com força, fechando-o.
De imediato, Fabrício pensou em gritar que estava ali trancado, mas assustado com as vozes de Seu Adolfo e de seu pai e com o tom delas, achou melhor não.
Por um buraquinho mínimo da fechadura viu o que aqueles homens faziam. Pensou, novamente em gritar, mas decidiu ficar quieto, pois sentiria vergonha e não saberia explicar o porquê estava ali dentro do armário e o motivo de não ter falado de imediato, assim que ele ficara trancado.
Os barulhos e as vozes cessaram, Fabrício sentiu que o buraquinho da fechadura fora tampado, talvez com o paletó de um dos homens e, então, não nem ouviu mais nada. Nem assim, criou coragem de abrir a boca, como sua mãe sempre recomendara "um dia você precisará se manisfestar e aí?..."
A noite chegou e quando o casal foi se deitar, Dona Celinha abriu o armário e levou um grande susto: Fabrício caiu duro no chão.
Até hoje ninguém ali da redondeza não sabe dizer porque Fabrício se trancou no armário e morreu sem conseguir sair; nem porque Seu Adolfo e seu pai choravam, desesperadamente, naquele velório, como nunca Dona Etelvina e Dona Celinha viram.
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Obs.: este post é uma homenagem ao Rafa meu filhote, que me disse ontem que eu deveria voltar a postar sobre pessoas, já que nessa babaquice de abecedário. Na falta de uma história real e na falta de luz para eu trabalhar o tanto que planejei, resolvi inventar essa merreca que me matou de rir. Nóis é pobre, maisnóissidiverti

2 comentários:

Palmitos e Cogumelos disse...

tadim do Fabrici

Rafael Freitas disse...

O Fabrício era gay?

COITADO!

#adeliafeelings

(E, nesse caso, coitado mesmo, né?! rs)
Valeu pela homenagem, mainha! Só não entendi o porquê da temática gay.
láláláaa