terça-feira, 25 de maio de 2010

Em casamento, conversa não é diálogo - Postagem temática


Após muitossss anos de namoro e noivado, tão comuns naquele tempo, eles se casaram.
Na lua-de-mel, em vez de viajarem pra outra cidade, ela comprou a ideia dele e foram para o sítio adquirido com muito esforço e que ele pretendia tornar "o nosso cantinho, amor”, nos finais de semana e nas férias do casal.
Lá chegando, ela, muito romântica, virgem e sonhadora achou ser os dias de lua-de-mel, só mel: muito beijo, muito abraço, muito sexo... Por que não? Mesmo inexperiente ela sentia ser bom. Ele, "compareceu", algumas vezes.
Mas... empolgado com a piscina, o campo de futebol e a churrasqueira, limpava e organizava tudo, e o tempo todo, com maior frisson, solicitando, o tempo todo, a presença dela para ajudá-lo; ela, emburrada, solicitava o tempo todo a presença dele para amá-la.
Ele pensou: “vou ter trabalho, ela não é organizada.” Calou-se e continuou limpando a piscina; guardou pra si aquele sentimento.
Ela pensou: “que triste, ele não é romântico e, muito menos, gosta de sexo, como eu esperava.” Calou-se, continuou ouvindo música, um pouco triste, mas guardou pra si, aquele sentimento estranho.
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Os anos se passaram. Muito companheirismo, muita conversa, falavam sobre tudo, e sempre, e muito. Formavam um casal perfeito, de provocar inveja e, também, admiração. Eram harmoniosos, falantes, amigos, calorosos e felizes.
Três filhos saudáveis e lindos: duas meninas e um menino.
A casa e o sítio, com secretárias colaborando, sempre encontrados na mais perfeita ordem, tudo limpinho e organizado.
Presentes trocados em dias especiais, palavras carinhosas, elogios, muita conversa. Tudo muito primoroso e elegante.
Os dois trabalhavam fora e ao se encontrarem, à tardinha, trocavam confidências do dia-a-dia. Ele pedia e dava conselhos; ela igualmente.
Ouviam e apreciavam as mesmas músicas, gostavam dos mesmos filmes e livros; pensavam igual sobre o futuro dos filhos.
Pura simetria. Em tudo, ou quase tudo. Uma ou outra discussão e só.
Quando o clima ruim passava, conversavam sobre o atrito que houvera, aparavam as arestas e tudo voltava às mil maravilhas.
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Tanto que, depois dos filhos crescidos, ao se separarem o espanto foi geral.
”Mas vocês se davam tão bem, que houve?” Perguntava um.
”Foi traição?” Outro indagava.
Eles, na mais perfeita dignidade, silenciavam.
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Até que um dia, uma amiga comum, de um jeito diferente, perguntou e obteve respostas.
Dele: “ela sempre foi péssima dona-de-casa.”
Dela: “ele nunca foi romântico e muito menos, bom de cama.”
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Tantas conversas num casamento, pra quê???
Melhor diálogos transparentes: no tempo e do tanto certo!!!
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Obs.:
1. Este post faz parte de um projeto de Rafael Gloria, do “Blog sintonizados”, e teve como tema: “casamento”.
2. Esse texto, com algumas adaptações, foi publicadado no meu primeiro blog em julho de 2006.
3. Tirei a imagem daqui.

12 comentários:

Bruna disse...

É, muitas vezes a quantidade de conversa não esclarece nada. Ainda mais quando nós mesmos temos pudores em dizer ao outro aquilo que incomoda, que é inaceitável.

Belo texto! Gostei.

Rosana Tibúrcio disse...

É isso, Bruna: o tal pudor, daí começa a tal bolinha de neve, que cresce e cresce até tomar conta do casal e ser maior que o amor dos dois..

Obrigada!!
Depois vou te visitar.

Pam disse...

concordo. Já fui casada, mas não passei por todos estes passos. Quando casei tinha 19 anos, e me lembro ainda hoje que um dia descobri que simplesmente não era eu mesma com ele. Calei tantas coisas, por tanto tempo, que simplesmente não dava pra pegar e resolver falar a verdade de uma vez. Foi preciso partir pra outra, agora mais amadurecida, agora completamente eu, completamente transparente e cheia de verdade sempre. Ainda bem que não esperei tanto tempo quanto eles pra recomeçar!
ótimo texto!
parabéns!

Rosana Tibúrcio disse...

É, isso de se calar em nome do politicamente correto, só dá merda. Conheço muitos casais que passaram e passam por isso. Eu mesma passei. É fato!!!

Julianne Maia disse...

O mais legal destes textos é ver o sentimento verdadeiro em todos eles. Todos temos uma impressão real para compartilhar. Tão verdadeiro isso de aponta os defeitos do outro. Na verdade, estamos sendo sinceros ao admitir que o outro tem defeitos, mas sustenta-se o relacionamento, porque ao colocar tudo na balança, vemos que mais ganhamos que perdemos com o outro do lado, mesmo que ele não seja muito "romântico". Acho que quando é assim, e depois acaba, não significa que não foi verdadeiro. Mas essa é a minha opinião! Hehe.

Primeira visita! Até mais!

Rosana Tibúrcio disse...

É isso, obrigada pela visita Julianne. Passo em sua casa depois pra te ver.

Camila de Souza disse...

Medo de me casar.

Camila de Souza disse...

Curioso, porque quando comecei a ler eu pensei "ai que vontade de casar", aí terminei desse jeito.

Genial essa tua maneira de criar dois sentimentos tão contrários no mesmo texto.

Beijo, Rosaníssima! Adorei isso aqui.

Palmitos e Cogumelos disse...

Vou chamar meu marido para uma conversa sobre sexo e organização da casa com urgencia!

Rosana Tibúrcio disse...

Isso Carolzinha, salve o sexo... hehehe

Divagações, pão e circo disse...

Qualquer gato vira-lata tem uma vida sentimental mais sadia que a nossa... Parabéns por esse registro a favor do diálogo. No tempo certo.

Rafael Freitas disse...

Medo de me casar. [2]
Salvas as devidas proporções [e gêneros rs], claro.