quarta-feira, 18 de março de 2009

Helena e uma intimidade que não poodia...

[Esta historia que adapto um tiquim agora, já foi postada no Guaraná com Canudinho, em outubro de 2008, quando tive a ideia de relatar algumas histórias e/ou impressões de pessoas que passaram por minha vida de um jeito bem peculiar. É o que eu tenho feito aqui no Outras Trilhas desde 2 de março.]


Esta é uma história bem interessante de uma mulher que não levava uma vida fácil, mas tinha e tem humor suficiente para rir da própria desgraça.
Essa mulher poderia se chamar Maria ou Rosa (mas eu a chamarei de Helena), poderia ter qualquer nome que indicasse uma mulher bem feminina, de ancas largas, peitão, cintura fina, voz sensual, olhar sem-vergonha e, às vezes, maternal, extremamente maternal.
Nas décadas de 50, 60 e até um bom período da década de 70, do século passado, (é minhas gentes, século passado) havia por aqui, e em várias cidades interioranas, locais específicos que abrigavam as mulheres com a profissão mais antiga do mundo.
Em Patos esse local situava-se próximo à minha casa. Para ser mais precisa, a Rua principal da Zona (assim denominavam esse “ponto”) ficava bem em frente ao portão da minha casa: “Rua Padre Brito”, comumente chamada: “Rua da Bola”. Que ironia!
Não podíamos jamais atravessar essa rua, nem olhar muito. Era difícil, pois ao sair de casa: de cara com a Rua da Bola. Fazer o quê?.
E não havia como escapar de “ver” amigos entrando por lá e, também, de conhecer uma ou outra habitante; e os filhos delas, caso tivessem.
Havia pensões principais, com as donas famosas que comandavam as mocinhas mais inexperientes. Numa dessas pensões morava-se Helena... que se tornou nossa amiga (dos meus pais, depois que ela abandonou a vida fácil, e nossa, bem mais cedo: criança quase sempre é despida de preconceitos). E éramos amigos dos filhos dela.
Quando os filhos atingiram a idade escolar, Helena, muito inteligente, comprou uma casa na Rua onde eu morava, para abrigá-los e protegê-los daquele ambiente nem sempre saudável. Contudo, à noite ia comandar o seu “negócio”. “O olho do dono é que engorda o gado”, afinal. E Helena precisava cuidar das “vaquinhas.” (hehe – não resisti).
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Muitos anos depois, por volta de 94 ou 96, não me lembro bem, Helena esteve aqui na minha casa pra uma festa em família e me contou a seguinte história:
Rosana, eu perdi um marido rico por uma besteira, uma intimidade fora de hora.
Na minha pensão, freqüentava um sujeito que gostava de mim. Ele não aceitava nenhuma de minhas meninas. Tinha que ser comigo. Eu ia, claro.
Um dia, ele me convidou para fazer uma viagem à Araxá*, pra irmos num hotel chique. Penso que ele queria saber como eu ia me comportar fora do meu ambiente. E fomos.
Tudo muito lindo, jantar numa mesa bacana, um quarto com cama bonita, penteadeira
(isso era chique, viu minhas gentes?).
Jantamos uma comida diferente e meu estômago estranhou um pouco. Mas tudo bem. Fomos deitar: fuc fuc e depois dormir. Normal.
Eu estava agoniada, os gases se acumulando e ai, certa de que ele dormia o sono dos justos, levantei as pernas pra cima, abri as danadas e pummmmm. Alívio!
Senti uma mexida na cama que não podia ser só o efeito dos gases que eu havia soltado. Percebi que ele se levantava. Tentei falar algo, me movimentar, mas ele apenas levantou a mão em minha direção, como se dissesse: 'fique quieta aí'. Foi para a janela e fumou o resto da noite, sem nada me dizer.
Na manhã seguinte, falou apenas: 'arrume suas coisas'. Pegou o carro e veio o caminho todo sem falar comigo. Me deixou na pensão e... nunca mais voltou.
Enquanto Helena me contava a história, eu chorava de rir, porque ela é muito espalhafatosa, engraçada. Mas depois me veio um sentimento meio que de dó e perguntei: “mas a Senhora não ficou triste, arrependida?” Ela disse: “na hora eu fiquei com vergonha, mas depois senti um certo alívio. Ele iria me tirar da Zona, me colocar numa casa só pra ele, mas longe da sociedade e por qualquer motivo, com certeza, me diria: “Mas eu te tirei da pensão.”
Por que eu me sujeitaria a isso? Um dia sairia da Zona, como sai, mas às minhas custas e sem ter que viver livre... numa prisão."
Helena conseguiu dar estudos para os filhos, com faculdade e tudo; os meninos são bem casados, todos gente muito do bem.
Vez em quando converso com ela. É ótimo!!
Helena é ótima, ela é tudo de bom!!

* Não tenho muito certeza se foi em Araxá.
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6 comentários:

Vera disse...

Êba!!

Eu inauguando os comentários de novo :-p

Adorei o "fuc-fuc". E tadinha da moça... e que cara chato, hein? Una pra ele!!

Ela expressou a liberdade através da flatuência. Inovou. Risos.

Beijos.

Thiago disse...

Todo mundo tem um pouco dessa Helena não é verdade?

Rafael Freitas disse...

Essa Helena vai ser a próxima Helena do Manoel Carlos?
haha

Rosana Tibúrcio disse...

Moça do Fio: fuc fuc eu uso há anos e minhas filhas quase me matam, falam que sou rEdícula, mas adoUUro... hehe

Ai Thiago esse lado Helena é cruel, mas quem não tem, né? Até eu... hahaha


Filhote, vamos dar ideia (sem acento) pro Mané? Veja você: uma Helena peidoreira... haha

Anônimo disse...

Muito boa essa história!! hehehehehe...
Mas confesso que fico pensando sempre no "se"... Tipo, e se ela não tivesse peidado?
Como estaria a vida dela hoje?
É... O acaso me intriga demais...

Rosana Tibúrcio disse...

É verdade, Jack... e "se não tivesse" hahaha
O se também me intriga...