terça-feira, 19 de outubro de 2010

Vinte e seis de março e o lindo selecionador de laranjas

Vinte e seis de março de um ano qualquer. Dia que preferiria esquecer.
Estava quieta no seu canto, sem nenhum tipo de disposição para um novo relacionamento e eis que se recorda das 'sábias' palavras de seu amigo: "amigãnnnn preste atenção nos homens que você encontra na feira, na panificadora, no cinema ou mesmo no trânsito. Foi num desses lugares que encontrei meu namorado!! Vou  levá-lo na sua casa hoje pra vocês se conhecerem tá boummm?"
Aquelas palavras matutando e ela resolveu olhar em volta e exercitar esse lado de caçadora a postos. Vai que aparece um bem interessante mesmo, pensou.
À sua direita havia um homem estranho, meio sujo. Parecia trabalhar com tijolos, areia e cimento. Nada contra quem fantasia cenas sensuais-românticas-pornográficas com um mestre de obras. Pra ela, mestre só se fosse de doutor pra cima. De dura, bastava a vida. Fora cimentos, telhas e similares, portanto. Se bem que... deixa pra lá...
Olhou à sua esquerda e havia um homem lindo, com um jeito interessante e caprichoso de selecionar laranjas. A cada uma que ele pegava, fazia uma boa análise e separa as melhores.
Gostou da cena e resolveu se aproximar. Precisava mesmo comer mais frutas e legumes. Bom motivo pra iniciar o propósito feito no início do ano. Março acabando e nada dela começar a tal readaptação alimentar.
Já que é pra seguir à risca, dicas do amigo, resolveu que o interessante era esbarrar no sujeito e, assim, fez: uma boa topada.
Desculpas daqui, desculpas dali e quando começou a pintar aquele clima: papaii mamãiii disse plocê andá depLessa. É, surgiu um catarrentozinho pra estragar seu exercício de vamos-à-caça-que-o-elemento-homem-tá-em-extinção. Não, casado não!!! Por causa de um casado vagabundo é que estava naquela peleja... E ela tinha achado o sujeito muito, mas muito interessante.
Resolveu ir pra casa e preparar-se para abater o amigo quando ele aparecesse com seu namorado naquela noite. "Ele me paga", pensou. No caminho de casa ligou pro "conselheiro" e contou o ocorrido na feira.
E ele: “amigãnnn eu pegava o pedreiro, você tinha que arriscar. Agora esse que selecionava tão bem as laranjas não serve pra você, escreve. Deve ser um dos meus.”
“Mas como? Tinha uma criança chamando o sujeito” - ela retrucou, mais irritada ainda com o amigonn...
“E daí? Isso não quer dizer nada. Esse jeito de selecionar laranjas diz muito mais amigãnnn”.
Antes das oito horas o amigo ligou todo alegrinho dizendo: “amigãnnn, vamos ficar pouquinho na sua casa, tá? Esqueci que hoje, dia vinte e seis comemoramos um mês de namoro. Não precisa preparar nada especial, um suquinho com aquelas laranjas tá ótimo”, ele disse gargalhando.
Assim ela fez... e a cada laranja espremida era um pedaço do amigo que queria socar, do homem bonito, da criança catarrenta... e dela que cismou de "sonhar" com o imprevisto. Bem feito, foi dar trela ao louquinho.
Toca a compainha, ela abre a porta e o amigo: “fofis deixa eu te apresentar meu amor...”
Foi um choque, aparentemente não percebido pelo amigo feliz.
Se pudesse ela se afogaria naquela vasilha de suco de laranja: era o homem lindo da feira, que selecionava bem as laranjas, que comemorava com seu melhor e mais louco amigo, dois meses de namoro, naquele fatídico vinte e seis de março.
Ficou o resto da noite maldizendo o vinte e seis, seu amigo, os lindos e bons selecionadores de laranjas, os homens casados sem-vergonhas: com ou sem filhos catarrentos...
Maldizendo o dia vinte e seis e pensando se, no vinte e sete de março, contaria ou não ao amigõnnn quem era o homem lindo da feira.
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7 comentários:

Rosana Tibúrcio disse...

Na boa, gente: eu Se divirto!!

Sr. Apêndice disse...

Hahaha! Teus causos são muito bons! A gente também SE diverte!!! UAhuiehauiea... :D

Helô disse...

Ótima história, Rosanita. Deve ter sido hilário o momento da apresentação.

Denise disse...

Nossa, vc é demais!!! Achei seu blog por um acaso do acaso e estou "se divertindo" muito com o que estou lendo... adorei!!.. suas palavras acabaram com o meu estress de fim de tarde.. obrigada...

beijo grande..

Denise

Rosana Tibúrcio disse...

Meninosss obrigada.

Denise, seja bem-vinda, feliz porque te fiz bem.
Retribuirei a visita tá?

VELOSO disse...

Espero que não seja autobiografico sua crônica! Curto muito seu humor!

Rosana Tibúrcio disse...

Rapaiizzzz dessa vez né euzinha não...


Mas poderia, porque dedo podre é o que "temos" hauhauhsuhas