Treze degraus foram suficientes para fazê-la mudar de ideia ou pelo menos deixar de zombar dos que insistiam em atribuir, a certos sinais, azar.
Nunca acreditou que o número treze, gato preto e passar por debaixo de uma escada significasse algo perigoso.
Repetia pra quem quisesse ouvir que não tinha medo de gatos, apenas os preteria, pois amava mesmo os cachorros; que o número treze ela adorava, nascera no dia treze de um mês primaveril, nada mais interessante; que debaixo de uma escada só não passava por receio de um pedreiro qualquer lhe cair nos braços. Pedreiro pra ela, só valia o Pedro, o da canção, mas ele era muito conhecido e paparicado. Se tivesse um Pedro Pedreiro, que fosse só dela.
Se bem que havia aquele outro, também pedreiro, não da canção, mas cantado e cantador de todas as mulheres daquele bairro. Exceto ela, que se dava ao respeito, oras. Sujeito arrogante, um gato, mas sem vergonha como um cachorro. Melhor, e só por isso, nem chegava perto das escadas... e de Pedros.
E assim seguia zombando dessas babaquices de crenças e azares.
Até que um dia avistou um gato preto preso a uma árvore, miando desesperadamente como se pedisse socorro. Raiva do bichano, ela sentiu; mas pensou: “sabe-se lá se é a sétima vida do neguinho, não serei eu a facilitar sua passagem dessa pra outra.”Gritou pelos pedreiros todos, inclusive pelo Pedro, e nada. Ela sozinha teria que resolver aquela pendenga.
Pegou uma das escadas enormes de madeira que havia perto da construção, imaginou-se com roupas de bombeiro, saiu arrastando aquela tralha e pronto, já já o gato estaria a salvo, pensou. Subiu na escada e começou a contar os degraus; no último, percebeu que eram treze.
Exatamente quando firmou os pés nesse último degrau e esticou os braços pra pegar o bichano, sentiu as unhas do infeliz no seu rosto, o balanço da escada e pimba: levou a maior queda de sua vida e caiu, direto, nos braços fortes do Pedro Pedreiro mais sem vergonha de todas as construções.
Olhou pra escada, lembrou dos trezes degraus, do número, do gato, dos azares todos que muitos propagavam e disse: não é possível...
Não é possível o quê? Ouviu uma voz estranha. E a voz completou: Pedro, solte a moça, não vê que ela está assustada? Assim que Pedro colocou-a no chão seguiu cambaleando e sussurrando palavras soltas que, pros outros, soavam desconexas, mas pra ela faziam bastante sentido: gato preto, o pedreiro, treze degraus, escada, sorte, azar, o cachorro do gato do Pedro, a queda: a perdição.
* Este post faz parte de um projeto de Rafael Gloria, do “Blog sintonizados”, e teve como tema: “queda” e compõe, também, a minha série55, porque toc é comigo mesma...
Nunca acreditou que o número treze, gato preto e passar por debaixo de uma escada significasse algo perigoso.
Repetia pra quem quisesse ouvir que não tinha medo de gatos, apenas os preteria, pois amava mesmo os cachorros; que o número treze ela adorava, nascera no dia treze de um mês primaveril, nada mais interessante; que debaixo de uma escada só não passava por receio de um pedreiro qualquer lhe cair nos braços. Pedreiro pra ela, só valia o Pedro, o da canção, mas ele era muito conhecido e paparicado. Se tivesse um Pedro Pedreiro, que fosse só dela.
Se bem que havia aquele outro, também pedreiro, não da canção, mas cantado e cantador de todas as mulheres daquele bairro. Exceto ela, que se dava ao respeito, oras. Sujeito arrogante, um gato, mas sem vergonha como um cachorro. Melhor, e só por isso, nem chegava perto das escadas... e de Pedros.
E assim seguia zombando dessas babaquices de crenças e azares.
Até que um dia avistou um gato preto preso a uma árvore, miando desesperadamente como se pedisse socorro. Raiva do bichano, ela sentiu; mas pensou: “sabe-se lá se é a sétima vida do neguinho, não serei eu a facilitar sua passagem dessa pra outra.”Gritou pelos pedreiros todos, inclusive pelo Pedro, e nada. Ela sozinha teria que resolver aquela pendenga.
Pegou uma das escadas enormes de madeira que havia perto da construção, imaginou-se com roupas de bombeiro, saiu arrastando aquela tralha e pronto, já já o gato estaria a salvo, pensou. Subiu na escada e começou a contar os degraus; no último, percebeu que eram treze.
Exatamente quando firmou os pés nesse último degrau e esticou os braços pra pegar o bichano, sentiu as unhas do infeliz no seu rosto, o balanço da escada e pimba: levou a maior queda de sua vida e caiu, direto, nos braços fortes do Pedro Pedreiro mais sem vergonha de todas as construções.
Olhou pra escada, lembrou dos trezes degraus, do número, do gato, dos azares todos que muitos propagavam e disse: não é possível...
Não é possível o quê? Ouviu uma voz estranha. E a voz completou: Pedro, solte a moça, não vê que ela está assustada? Assim que Pedro colocou-a no chão seguiu cambaleando e sussurrando palavras soltas que, pros outros, soavam desconexas, mas pra ela faziam bastante sentido: gato preto, o pedreiro, treze degraus, escada, sorte, azar, o cachorro do gato do Pedro, a queda: a perdição.
* Este post faz parte de um projeto de Rafael Gloria, do “Blog sintonizados”, e teve como tema: “queda” e compõe, também, a minha série55, porque toc é comigo mesma...
12 comentários:
Das suas crônicas, uma das melhores.
E o treze trouxe sorte, pelo visto.
Taffa cuti cuti, chamou meu post de crônica. Tô me achando agora...rs
E o Taffa não tem razão? Não é você nossa cronista mor? Bjs e bom fim de semana.
Eu sou muito boUUUa, Helô,fala sério.
Até eu adorei meu post/crônica... hehehe
nuh.
que bonito mãe.
amei essa parte:
Se bem que havia aquele outro, também pedreiro, não da canção, mas cantado e cantador de todas as mulheres daquele bairro. Exceto ela, que se dava ao respeito, oras. Sujeito arrogante, um gato, mas sem vergonha como um cachorro. Melhor, e só por isso, nem chegava perto das escadas... e de Pedros.
Nossa, é agora que explodo. Elogio de Laurinha, minha idala-mor de todos os blog, é tudo de bom.
Meu post de quinta do Guaraná não vingou, mas esse aqui, uauuuu!!
Voltei aqui, reli e repito: Você é muito boUUUa!. Beijo.
Ah, gente, que isso?
Imaginem eu falando como o Jô fala quando elogiado, sabem como? Assim, passando a mão na frente do rosto como se tivesse com vergonha...
hauaauahauhaushausuha
muito bom mesmo.
.
quero cair nos braços de um Pedro.
.
sorte pra quem entende
e azar pra quem não.
ó coitada
Uau, minha filha grande lembrou que a mãe tem blog, é?
danada!!!!
Hummmmm, Marininha, agora eu entendi isso do seu querer. Pedro... hahahaha muito bom, coincidência pura.
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