quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Rita* e as histórias não contadas


Rita foi casada por mais de vinte anos e me diz sempre que o tempo vivido ao lado daquele homem foi um inferno porque Tadeu, seu marido, era o "capeta em figura de gente".
De qualquer jeito que ele ficasse, dizia Rita, era ruim: se lúcido, com ela não conversava e era um cavalo; se bebia aprontava todas e, continuava sendo um cavalo.
Conheci o marido de Rita e estive com ele uma única vez: contando histórias pra cerca de umas cinco crianças que, fascinadas, nem piscavam os olhos e me pareceram, além de atentas, extremamente felizes ao lado daquele homem, que Rita me havia dito: rude.
Fiquei intrigada.
Conheço os filhos de Rita há muitos anos e todos eles, sem exceção, falam bem do pai. Dizem que ele bebia sim, mas que era para esquecer os aborrecimentos que tinha com a mãe.
O marido de Rita, depois dos filhos já crescidos, resolveu pegar seus objetos pessoais e sumir no mundo. Até hoje ninguém sabe por onde Tadeu anda. Os filhos todos se casaram, tiveram filhos e dois deles até netos têm. Rita e seu marido são bisavós.
Sou confidente de Rita e escuto sempre ela dizer que coisas escabrosas ocorriam entre quatro paredes, sobretudo, quando ele bebia.
Também sou amiga dos filhos de Rita e uma das filhas me disse que o pai era um homem calado sim, mas quando bebia ia pra cama sem amolar ninguém. Pra cama do casal, por certo. O que acontecia entre aquelas quatro paredes? Rita me conta que várias coisas horríveis, mas nunca entra em detalhes; não há sequer um caso contado, com início, meio e fim.
Fico intrigada.
Dia desses encontrei com uma nova vizinha. Conversa vai, conversa vem, descobrimos que ela também conheceu Rita e Tadeu, por muitos anos: no tempo em que o casal vivia junto. Não sei por que cargas d’água resolvi perguntar o que ela achava do casal. Ela me disse que Tadeu era uma ótima pessoa, calado, mas caloroso, principalmente com as crianças. E sobre Rita, a vizinha falou: "ela fazia da vida de Tadeu um inferno, era um 'capeta em figura de gente'."
Fiquei com aquelas palavras e com a lembrança dos filhos falando bem de Tadeu. Eu também me recordei, nitidamente, da cena em que vi Tadeu, com crianças felizes à sua volta, e pensei, intrigada, nas histórias que Rita nunca me contara.
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* Retornado os causos de onde parei e reafirmando que os nomes são todos fictícios. As histórias? Elas não... ou não... rs
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.i

3 comentários:

Anônimo disse...

eita!

que Rita complexa.
Parece que ela foi/é o problema, no final das contas.

Rafael Freitas disse...

"A Rita levou meu sorriso no sorriso dela, meu assunto
Levou junto com ela e o que me é de direito arrancou-me do peito e tem mais..."

Thiago Amâncio disse...

a vantagem de passar madrugadas com vc é que a gente começa a associar seus posts às histórias que vc conta. huahuahuauha