Paulo me contou um dia que não se recordava muito bem do primeiro velório que havia
ido, mas se recordava daquele que ganhou um beliscão doloroso e daquele outro
em que as pessoas davam risadinhas e cochichavam umas com as outras.
Um riso
frouxo da senhora que estava sentada perto da porta despertou-lhe a atenção. Olhou
ao redor e quase todos riam também, exceto a mulher do falecido que chorava
debruçada sobre o caixão e que recebia os cumprimentos sempre cabisbaixa.
Paulo chegou mais perto e pensou que poderia ouvir a causa de
tanto burburinho e entender o porquê naquele lugar, onde deveria haver só comoção,
havia risadinhas e muito disse me disse.
Afinal, velório é lugar sério, de orações e de choro, não de
correria, risos e conversinhas. Fora isso que lhe disseram no velório de sua
avó, quando corria e brincava com seus primos e irmãos. Disseram depois de
receber aquele beliscão que doeu a alma. Dele e dos amiguinhos. Todos foram "agredidos" pela tia brava. Exatamente a tia que mais ria no velório marcante
daquele dia em que apenas uma pessoa chorava: a viúva.
Foi então que Paulo ouviu a senhora cochichar com a outra mulher
feia que acabara de chegar. “A Maria pegou o marido com a boca na botija, deu um
grito tão grande, ele se assustou tanto e morreu do coração... e o compadre
dele, o Seu Zé da venda, saiu correndo com as calças na mão.”
Meu amigo demorou anos para entender o sofrimento daquela
mulher debruçada no caixão e até hoje não entende a maldade alheia. E tem medo dessa maldade, pois é da turma do defunto e do compadre Zé. "Com muito orgulho, Rosana", me dizia ele, apesar de ter algum receio de atitudes similares a que viu.
Mas ele nunca entendeu a graça em rir de alguém que foi traído. Ele me pedia para tentar explicá-lo, mas né... como explicar essa idiotice?
Paulo me dizia acreditar que talvez o choro daquela mulher tenha sido mais triste ainda porque descobriu que seria a partir da morte do marido, além de viúva traída uma mulher solitária... pois sem nenhum amigo.
Mas ele nunca entendeu a graça em rir de alguém que foi traído. Ele me pedia para tentar explicá-lo, mas né... como explicar essa idiotice?
Paulo me dizia acreditar que talvez o choro daquela mulher tenha sido mais triste ainda porque descobriu que seria a partir da morte do marido, além de viúva traída uma mulher solitária... pois sem nenhum amigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário