sexta-feira, 22 de junho de 2012

Na casa da praia


A amiga (Telma) de minha amiga (Isa) desenvolveu, depois de muitos anos de casada e com dois filhos, a ninfofobia, que é, para quem não sabe, um medo exagerado do sexo. E juntos, ela e o marido, combinaram dar um tempo para esse aspecto mais que importante do casamento, até que Telma ficasse curada.

Do nada, o assunto que deveria ser sigiloso começou a ser comentado na roda de amigos. Um amigo do casal soube o que não deveria saber e, consequentemente, os outros todos, também. Inclusive Isa, a minha amiga, melhor amiga de Telma. E quem contou para Isa foi o seu marido Waldir, vejam vocês: "antes que você saiba pelos outros, vou te contar o que falaram hoje, da Telma, na roda de cerveja", disse Waldir, tentando se isentar da turma da fofoca.

Só que Isa, achou tudo muito estranho: o fato de Waldir - sempre muito discreto - comentar com ela papo de roda de cerveja e o fato de Telma - sempre muito falante - não ter lhe contado nada, já que amigas e confidentes. 

Entendendo que aquele assunto não era fácil de ser abordado, Isa procurou conversar com Telma de forma bem carinhosa: primeiro contando o que soubera e depois perguntando se aquilo era mesmo verdade.  Telma não só confirmou como chorou muito. Em meio às confidências rasgou elogios ao seu marido Jaques e à sua postura, compreensão e fidelidade diante daquela dificuldade "que era do casal", afirmou a coitada.

Mas algo continuou não batendo para Isa. Pelas conversas entre amigas e algumas confidências, Telma não tinha jeito de quem estava com aquele tipo de problema: falta de sexo. Não tinha esse tipo de cara, se é que vocês me entendem. Logo ela, maior namoradeira da turma. Desde sempre. Palavras de Isa quando me contou esse babado.

Feriado prolongado e os amigos resolveram passar uns dias na praia; alguns casais se hospedaram na casa de Isa e Waldir, inclusive Telma e Jaques. Isa não pôde ir porque sua mãe estava hospitalizada. Mas o marido foi com os filhos do casal. Inesperadamente a mãe de Isa se recuperou,  recebeu alta e foi para casa, onde tinha companhia para cuidar de sua recuperação. Não havia naquele tempo a tecnologia que há nos dias de hoje e Isa apenas decidiu ir, sem avisar, para a casa da praia que ficava bem pertinho da cidade onde moravam.

Ao passar de carro pelo local onde a turma sempre ficava, Isa parou para dar um alô ao marido, filhos e amigos. Desceu do carro, os filhos fizeram festa, os amigos também, inclusive Jaques, marido de Telma. Notou a ausência de Telma e de seu marido Waldir. Informaram, então, que a amiga havia tido uma queda de pressão e como o filhinho menor chorava muito, seu marido ofereceu para levá-la ao posto. Isa resolveu ir até lá para auxiliar o marido e a amiga. Mas antes de chegar ao posto resolveu parar na casa da praia para deixar suas coisas, lavar o rosto, ir ao banheiro, essas coisas.

Desceu do carro, pegou as chaves, abriu a porta e deu de cara com o marido e a amiga transando no sofá da sala. Isso ninguém contou para ela, foi ela mesma quem presenciou a cena... e me contou.
Na hora veio à cabeça de Isa a imagem de Telma subindo em um banco e abrindo a porta do armário da cozinha, pegando um comprimido e tomando. Isa havia presenciado essa cena várias vezes e nunca perguntou à Telma que remédio era aquele e o porquê dele estar tão "escondido."
Só na hora da cena que assistiu é que Isa "identificou" a cartela de remédios: anticoncepcional. Só na hora da cena é que Isa entendeu o porquê sua amiga, sempre tão falante, ter se calado diante de um problema daqueles (ninfofobia) e por que, seu marido, sempre tão discreto, ter-lhe contado a conversa de bar. Ato falho comportamental dos dois, se é que isso existe.

Isa saiu da casa da praia sem se fazer notar, voltou para o carro e ficou pensando na enormidade de atitudes que ela poderia tomar: fazer uma cena; espancar os dois; chamar o marido de Telma para ver a mesma coisa que viu; substituir o anticoncepcional da amiga por outro remédio. Achou todas as possibilidades difíceis demais, ela me disse.
Mais fácil pra ela foi voltar onde os amigos estavam, mentir que ligou do orelhão para saber da mãe - antes de chegar ao posto, onde a amiga doente estava - e soube que sua mãe havia piorado e que, assim, retornaria para a casa da cidade. 

Isa me contou que sempre desconfiava de seu marido, mas que não queria saber se ele aprontava, pois se soubesse teria que tomar uma atitude. E foi o que ela fez. Fez de conta que não sabia de nada, para não ter que tomar nenhum tipo de atitude aparentemente "visível".  

Na outra semana Isa começou uma campanha para vender a casa da praia, e conseguiu. O marido "esperto" caiu feito patinho. Ela inventou outros lugares para irem nos finais de semana prolongado, deu um jeito de se afastar de Telma e, assim, conseguiu separar o casal de amantes de vez. Estava certa disso.

Quando Isa me contou essa história, há uns bons anos, achei que ela era uma louca, mas hoje eu entendo perfeitamente a minha amiga. Se ela conseguiu viver com o que sabia fazendo de conta que não sabia - para não tomar nenhuma atitude - eu tiro o meu chapéu pra ela. Eu não conseguiria, mas quer saber? Não sou contra quem consegue não. 

Hoje Isa tem o mesmo marido, só que aposentado e doente, um amante de muitos anos (vejam vocês), uma casa confortável, os filhos formados: "uma vida boa", diz ela. Admiro!!!
Quanto à Telma? Isa soube que eles se mudaram para Vitória naquele mesmo ano e nunca mais teve notícias da "amiga doente".

   Série: livro

2 comentários:

Café e Anfetaminas disse...

To passada... passada... com a cabeça fria da pessoa, a capacidade de raciocinar, de perdoar, de agir com frieza diante de tanta filhadaputice.
Não sei se admiro ou não, mas isso tb não cabe a mim, sei que não engoliria mesmo, provavelmente chamaria o marido da outra pra ver, ou faria um escândalo daqueles novelescos... falando: sua puuuuuuuuuuuuuutaaaaaaaaa, tava com medo de sexo pq tava dando pro meu mariiiiiiiiiiiiiiiiiidooooooo... e por aí vai.
Adoreiii o post... a-d-o-r-e-i.

Helô disse...

Caceta!! Eu não daria conta! Não sei o que faria, mas não daria conta. Nota dez pra essa amiga que gostava mais dela que dos outro, pois fez o que a deixaria feliz: ter o marido a seu lado.