é Série: livro
É a bebezinha que chora no berço, por tudo e por nada; é o adulto que belisca sem explicar o erro cometido pelo beliscado.
É o jovem que pirraça, espanca e enreda porque é homem e homem manda; é a menina que responde perguntas dirigidas aos mais velhos porque mais esperta.
É a adolescente ingênua que acredita em amizade sincera, em irmandade e amor; é a jovem que aponta e comprova defeitos alheios.
É o casal perfeito aos olhos dos outros; é a aluna honesta que aponta falha cometida à professora desatenta.
É a jovem que encontra o primeiro amor e pensa ser eterno; é a mulher despeitada que trai.
É a mulher que disse sim pra vida toda; é o homem que disse sim às tentações.
É a mulher que reclama até calada; é o homem que cala um silêncio gritante.
É a trabalhadora que cumpre tudo no seu devido tempo; é o colega do lado que escora nos outros.
É o homem que abandona o barco; é a mulher que cede, doa e espera.
Esses são os de quem tratarei, falarei e exorcizarei: eu e minhas companhias. Ao que tudo indica, vou cuidar mais de mim e, muito provavelmente, descer a lenha em várias dessas gentes.
Complementando.
Nada mais interessante do que um texto que encontrei hoje no meu trabalho. É tanta coisa ruim que pego pra ler, mas hoje fui premiada com algo que Helena Antipoff escreveu. Conhecia quase nada dessa educadora, confesso. Adorei o livro que preciso consultar para ajustes de um trabalho sobre educação rural, do autor Daniel I. Antipoff, filho de Helena. No livro tem vários fragmentos que a mãe escreveu ao longo da vida. E esse é tão, mas tão providencial para o meu post de hoje que resolvi fazer algo que raramente faço: postar textos alheios. Mas esse trata de vizinhança, companhias, pessoas, consciência. BONITO!!!
"Existem companhias fatais, que se impõem ao indivíduo, sem que possa desfazer das mesmas ou ainda ser consultado se as quer ou não. A mãe e o pai, eis os primeiros companheiros desta espécie, que a criança terá de aguentar durante anos a fio, apesar de tudo aquilo que esta vizinhança tenha de incompatível para ele mesmo. Vizinhança também fatal é aquela que o homem encontrará em sua morte. Que mistura curiosa nos cemitérios, em que os túmulos se enfileiram, lado a lado, sem que o defunto seja consultado sobre os seus prováveis vizinhos, da esquerda, da direita, junto à cabeça ou a seus pés. Muitas vezes, eu me sinto surpreendida ao constatar o contato engraçado que os volumes de um autor devem suportar ao enfileirarem-se lado a lado com outros autores. Os piores inimigos se encontram, placidamente, mas eis agora que é uma luta quase diária, por esta vizinhança fatal, contra a nossa vontade – é a luta contra a nossa consciência. Que vizinhança, meu Deus!”
(ANTIPOFF, Daniel I. Helena Antipoff: sua vida, sua obra. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1975, p. 171-172).
2 comentários:
Rosana,
Lembro muito do pai falar da Helena Antipoff. Mas também não conheço nada sobre ela.
César, não sei se lerá aqui de novo. O autor desse livro morou aqui em Patos.
Eu não me lembro do pai falar sobre ela. Lembro de estudá-la, rapidamente, quando fiz pedagogia.
Eu fiquei encantada com o que li. Vou adquirir esse livro e algum dela, qualquer hora dessas.
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