domingo, 10 de outubro de 2010

Dezenove ou Sofia?

Dezenove...
- esenti
Dezenove?
- esenti
Dezenove, não está?
- presente!!!
E assim era todo dia - por três vezes: de manhã, na hora do almoço e antes de irem pra cama -, aquela merreca de chamada imbecil que revoltava a menina de nome tão bonito: Sofia.
Por que não dizê-lo? E por que não dizer todos os outros nomes das colegas? Por que chamá-las pelo número? E o dela era pior, pois o último.
Como desde o primeiro dia ela havia se rebelado contra esse costume, por três vezes, todos os dezenove rostos (os das dezoitos colegas mais o da irmã superiora) se voltavam pra ela. Eram trinta e oito olhos. Somados aos óculos que algumas usavam, daria... melhor deixar pra lá e não contar nada disso.
Tudo bem que certos números atribuídos a algumas meninas eram bem mais bonitos que seus nomes de verdade, como: Fábia, Ildefina, Juvência e afins. Ela preferiria se chamar cinco, oito e treze do que um desses. Mas para seu alívio, o nome dela era Sofia. Bonito!!
E assim ela foi seguindo nesse martírio: janeiro, fevereiro, março e dezenove... presente
Chegou a fazer, por três vezes, um pedido pra que isso se acabasse. Afinal, era um costume do colégio, mas no tempo em que por lá passavam cerca de cinquenta meninas... mas agora, eram apenas dezenove.
Mas não, não vamos atender à dezenove reclamona, a Superiora dizia...
Até que um dia ela ouviu uma conversa entre a irmã Superiora e a outra Irmãzinha auxiliar, sobre uma história de que algumas meninas, escolhidas a dedo, iriam a uma peça de teatro. Só as que tinham nota alta e as bem comportadas.
Excluíndo a revolta da chamada, Sofia era até uma boa menina, só tirava cem. Ficou alegre que só, mesmo sabendo que ouvir conversa alheia era algo indevido... mas foi sem querer, ela pensou.
E as irmãs falavam baixinho. Ela ouviu algo "dezenove", não entendeu a segunda palavra, "não vai dar..." E antes que a Irmã concluísse a frase, Sofia disse: "eu não vou por que, se só tiro cem?"
Mas do que você está falando menina? Perguntou brava a superiora.
E Sofia disse: eu ouvi, foi sem querer, irmã, mas eu ouvi vocês dizendo sobre o teatro, sobre notas boas... e eu tiro notas boas, por que então não posso ir? - Mas quem disse que você não vai, menina? Disse a irmãzinha auxiliar
Eu ouvi vocês dizendo "dezenove não sei o quê não vai dar..." 
As irmãs olharam uma pra outra e só então entenderam. Dezenove eram as horas que a Irmã auxiliar pensava ser a ideal para saírem do colégio. E a Superiora queria dizer apenas que "dezenove horas não vai dar pra chegarmos a tempo", mas foi interrompida pela menina "dezenove": a Sofia.
Sofia saiu dali sentindo algo estranho e maldizendo, mais ainda, o nome dezenove que agora parecia lhe pertencer...
Na manhã seguinte e nos outros dias todos a Irmã, sem nenhuma justificativa, ao fazer a chamada, passou a dizer o nome correto das meninas.
Sofia sorriu, entre sem graça e contente. Não pôde deixar de pensar: coitadas de Fábia, Ildefina e Juvência, sou mais meu Dezenove, vamos combinar...

4 comentários:

Palavras Vagabundas disse...

Boa noite!
Gostei muito do "conto".
abs carinhosos
Jussara

Sr. Apêndice disse...

Hehehe...

Muito bom! Deverias escrever um livro com esses teus contos/causos! :D
Eu compraria!

Rosana Tibúrcio disse...

Obrigada Jussara!

Sr. Apêndice... isso tá me dando um trabalho. Mas inventei né? Agora é chegar nos 55 até 16 de novembro. Sou lôca?

Sr. Apêndice disse...

Hahahaha!!!
Um trabalho muito bem feito, diga-se de passagem! E já que tu mesmo se meteu nele, boa sorte, porque a gente quer ler o que tu escreve seja até 100 ou 1000! :D